Nova York não está no jornal

Um conhecido jornalista bradou certa vez que ninguém pode ser jornalista em Nova York se não conseguir ler o “New York Times”. O centenário jornal é tão parte de Nova York que arriscaria – ousaria? – dizer que um não existiria sem o outro. Exagero? Não. Não que inexistissem no sentido literal, mas metaforicamente. Um faz parte da alma do outro, como criador e criatura.
O “New York Times”, porém, ficou chato. Talvez já não reflita mais Nova York. A cidade parece estar muito à frente, parece ter aprendido as muitas lições a que foi submetida em toda a sua história. A cidade busca reinventar-se a cada manhã, o jornal esforça-se para se manter (não financeiramente, porque este não deve ser um problema para o NYT; é um esforço para seguir os trilhos da tradição)...

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3 comentários:

Anônimo disse...

Vindo de quem vem sei que vai ser coisa boa! O endereço já está salvo no meu "favoritos".
Ahh, quanto a referência a mim na crônica, eu havia entendido sim! hahaha

Rodrigo Piscitelli disse...

Nova York não está no jornal
Um conhecido jornalista bradou certa vez que ninguém pode ser jornalista em Nova York se não conseguir ler o “New York Times”. O centenário jornal é tão parte de Nova York que arriscaria – ousaria? – dizer que um não existiria sem o outro. Exagero? Não. Não que inexistissem no sentido literal, mas metaforicamente. Um faz parte da alma do outro, como criador e criatura.
O “New York Times”, porém, ficou chato. Talvez já não reflita mais Nova York. A cidade parece estar muito à frente, parece ter aprendido as muitas lições a que foi submetida em toda a sua história. A cidade busca reinventar-se a cada manhã, o jornal esforça-se para se manter (não financeiramente, porque este não deve ser um problema para o NYT; é um esforço para seguir os trilhos da tradição).
Ainda assim, trata-se do “New York Times” – o que, por si só, exige respeito. Que se leia o NYT, então. Seis anos depois, o 11 de Setembro (ou 9-11, como preferem os norte-americanos), já não ecoa como antes. No entanto, ainda ecoa. Nas páginas do “New York Times”. Na TV, de manhã até a noite, de canal em canal, um dia antes e um dia depois. Seria a mídia realmente um mundo à parte, um outro mundo? Para um jornalista, admitir isso é arranhar suas próprias entranhas.
O fato é que a Nova York do NYT não é a mesma que se vê nas ruas. Seis anos depois, ainda há homenagens, lembranças, manifestos e protestos. Poucos, registre-se. Nas ruas, porém, vê-se uma cidade que acorda (acorda? Nova York não dorme...), toma seu café da manhã apressadamente, caminha (às vezes corre) para o trabalho, constrói, compra, vende, respira, trafega, buzina, entardece, anoitece e dorme (dorme? Nova York não dorme...)
O que não se vê são distúrbios, tumultos, tensões (talvez as de Wall Street, mas não as do fantasma do World Trade Center ali ao lado). Calmaria não é bem uma palavra apropriada para Nova York, mas para um 11 de setembro – ou melhor, para “o” 11 de Setembro – é isto que parece prevalecer. Uma cidade que se superou, aprendeu, “levantou a cabeça e deu a volta por cima”. Os “new yorkers” exibem claramente isto no rosto. Nova York exibe isto claramente nas suas esquinas.
Não, não há dúvida de que aquele 11 de setembro mudou tudo (a Miss Liberty que o diga). Foi, sim, uma punhalada no coração da cidade, no coração da “América” (ah, essa pretensão de se considerar o centro do mundo...). Não foi, porém, o fim. Longe disso. Deu a Nova York e aos “new yorkers” (estes seres que falam inglês, espanhol, português, italiano, alemão, finlandês, chinês, japonês, tailandês e tantos outros “ês” que existem no mundo) uma vontade de recomeçar tão incrivelmente forte que talvez o mais lúcido (lúcido???) dos terroristas jamais imaginasse.
Não que os cidadãos estejam ajudando com as próprias mãos a erguer duas novas torres, maiores que as do WTC, mais imponentes (talvez tão impotentes quanto as originais...). Não se trata disso. E como é bom saber que não foi com simbologias que Nova York e os “new yorkers” decidiram renascer – ainda que se leve a cabo o projeto de erguer duas novas torres no vazio que prevalece no “Ground Zero” seis anos depois. Talvez inconscientemente, e acertadamente, Nova York e os “new yorkers” renasceram – e renascem – a cada dia quando não desistem de acordar (acordar? Nova York não dorme...), de tomar seu café da manhã apressadamente, de caminhar (às vezes correr) para o trabalho, construir, comprar, vender, respirar, trafegar, buzinar, entardecer, anoitecer e dormir (dormir? Nova York não dorme...).
Inadvertidamente, é esta saborosa rotina desta saborosa cidade que o “New York Times” não mostra. Não, o destaque da edição daquela terça-feira 11 de setembro do NYT não devia ser “Remembering lower Manhattan´s day of horror”. É com as pessoas em seus insignificantes cotidianos que os terroristas queriam acabar. E era isso, os cotidianos insignificantes de milhões de “new yorkers” que o NYT devia mostrar.
Ainda assim, é preciso ler o “New York Times” - principalmente um jormalista. Afinal, é um patrimônio de Nova York. Está para a cidade como esta para o jornal. São faces de uma mesma civilização, de uma mesma cultura. Estão ligados tal como criador e criatura. Pensando bem, o fato do NYT estar ali naquela manhã de terça-feira 11 de setembro é mais uma insignificância do cotidiano de Nova York que talvez os terroristas não imaginassem que fosse persistir.

P.S.: a edição histórica de 11-9 do “New York Times” exigiu US$ 1,25 numa banca da esquina da Sétima Avenida com a 34rd Street. No domingo anterior, a edição custava US$ 4. Tinha alguns quilos a mais.

Daniel disse...

Oi meu amigo. Desculpe de "postar" no lugar errado mas eu nao consegui obter seu e-mail pelo blog.

E' o Daniel de Lima te escrevendo aqui. Lembrou?

Como andam as coisas e a vida jornalistica? Falando em vida jornalistica eu preciso de umas aulinhas de portugues...rs. Meu portugues esta se deteriorando a cada dia.

Eu continuo aqui nos EUA, desde 2002, agora trabalhando numa area nova, empresa nova, estado novo, etc.

Enfim, so escrevi pra dizer um "oi", dizer que de vez em quando passo por aqui pra dar uma lida nas suas aventuras e pra reativar o contato.

Abracao Rodrigo e sucesso pra ti.

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