Ah, museus... - parte 2

Um leitor deste blog - e amigo - sugeriu, ao ler a postagem sobre museus, uma visita a dois deles - ambos no Brasil. Sugeriu o Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), e o Masp, em São Paulo.
Quando criei este blog, decidi que só comentaria sobre lugares que conheço. Como já estive em ambos os museus sugeridos, aí vão os comentários:

* Museu Imperial - Considerando que o Brasil teve - na comparação com países de tradição real - um curto período imperial, este lugar é o máximo. A arquitetura é bela, em estilo neoclássico, o que por si só já valeria uma visita. O museu em si guarda as "jóias" (no sentido literal e figurado) do império brasileiro. É uma viagem por uma época que dificilmente voltará. Apenas por curiosidade, o prédio - residência de verão da família real - foi construído entre 1845 e 1862. Antes, em 16 de março de 1843, um decreto do imperador Pedro II criou Petrópolis. A transformação do lugar em museu ocorreu em 16 de março de 1943 (curiosamente um século após o decreto do imperador) por meio de um decreto do presidente Getúlio Vargas.
Em tempo: em Petrópolis, cidade que carrega em seu nome a marca do império, existem muitos outros lugares para ir - ligados ao período imperial (como o Palácio de Cristal) ou não (como a casa de Santos Dumont, interessantíssima).
* Masp - Confesso que a última vez que passei por ele, no ano passado, tive uma certa impressão de desleixo nos arredores. Contudo, o mais importante do Masp é o seu acervo (e é sempre agradável ver uma obra de arte) - embora o prédio seja um marco da paulicéia desvairada, uma obra-prima da arquitetura, um desafio à lógica daqueles que nada entendem de engenharia.

PS: para quem quiser arriscar um passeio virtual, os sites destes dois museus são http://www.museuimperial.gov.br/ e http://masp.uol.com.br/.

Ah, museus...

Assim como igrejas são templos da fé, museus são templos do conhecimento.
Para muitas pessoas, são passeios chatos. Trata-se de um pré-julgamento – embora, reconheço, seja necessária uma boa dose de disposição para ir a um lugar desses. Disposição física e emocional. É preciso estar disposto a vivenciar experiências, do contrário o museu será nada além do que... um museu.
Para tantas outras pessoas, museus são meros pontos turísticos. Logo, vai-se ao Louvre porque lá está a famosa Monalisa, do mestre Leonardo Da Vinci. É quase como cumprir um dever – o tal “estive lá”. Passam pelo museu como se estivessem em um estádio de futebol.
Para algumas pessoas, porém, os museus têm alma. Vão muito além de quadros e objetos. São verdadeiras experiências – cujas sensações são quase indescritíveis. Pretendo a qualquer hora escrever sobre isto. Desta vez, porém, prefiro fazer a minha lista de museus. Iria colocá-la no espaço “minha lista de...”, mas lá não caberiam comentários. Então, aí vão (sem qualquer ordem de importância):

1) Casa do Emigrante (Auswanderhaus) – Bremerhaven (Alemanha) – um museu novo, em formato de navio, que conta a história das pessoas que emigraram para a América no século 19. Moderno, diferente, sensacional. O visitante é levado a tornar-se um emigrante.
2) Museu da Língua Portuguesa – São Paulo, SP – diferente, como não podia deixar de ser. Afinal, como contar a história de uma língua? É preciso muita criatividade – e este lugar tem de sobra. Basta dizer que o visitante é levado a “sentir” – isto mesmo – a língua portuguesa. A sala dos poemas é simplesmente fenomenal!
3) MoMa (Museu de Arte Moderna) – Nova York (EUA) – Você pode visitá-lo (como um espectador) ou senti-lo (que tal interagir com as obras, ainda que isto se dê no seu íntimo apenas?). Encontrar a versão de Andy Warhol sobre Marilyn Monroe e “O tocador de Alaúde” pintado por Joan Miro foi particularmente emocionante. Ah, visitar este lugar com um amigo entusiasmado é ainda melhor.
4) Museu de História Natural – Nova York (EUA) – Conhecer este lugar era um sonho. Por um único motivo: o T-rex. Sim, é possível com um pouco de esforço imaginar-se alguns milhões de anos atrás correndo de um tiranossauro, cujos dentes afiados e ameaçadores estão apenas alguns palmos à frente. E tem muito mais!
5) Museu da Aviação – Washington, D.C. (EUA) – Confesso que imaginava ver muito mais daqueles caças F-qualquer coisa que a Força Aérea americana desfila por aí. Ainda assim, é um lugar diferente, que conta um pouco da história da aviação e da conquista do espaço (a parte espacial é, sem dúvida, a mais atraente).

PS: Há muitos outros interessantes que merecem estar nesta lista, caso do Metropolitan (Nova York) e de alguns palácios que se constituem em verdadeiros museus. Busquei, porém, fazer uma seleção de estilos diferentes. Haverá oportunidade para comentar sobre os demais. O importante é saber que - parafraseando o grande Fernando Pessoa - todo museu vale a pena se a alma não é pequena.

Para ti, para todos

Aquele chão de pedras, aquelas casas coloridas, aquelas igrejas históricas, aquela iluminação que lembra luz de velas, aquele ar, aquele mar... Definitivamente, Paraty é uma pérola. Não há como não se encantar com a cidade, encravada numa das mais belas rotas rodoviárias do mundo, a Rio-Santos, que liga o litoral paulista ao fluminense.
Fundada em 1597, Paraty oferece um pouco de tudo: uma rica arquitetura colonial, preservada como em poucos lugares; pontos de elevado valor histórico; uma cultura invejável (não é à toa que lá se realiza a Flip, uma das mais tradicionais feiras literárias); aventura e ecoturismo nas trilhas e cachoeiras; e um mar deslumbrante, recheado de ilhas belas (com o perdão do trocadilho). Para temperar tudo isso, o clima - não o geográfico, mas o psicológico, aquele que não é captado pelas previsões, que está em cada detalhe, invadindo a alma de quem por lá passa.
Se tivesse que definir Paraty em uma palavra, diria "mágica"! Uma magia irradiante, que se acentua com o entardecer e se renova ao nascer do sol. E se não bastasse, Paraty ainda tem um nome poético, como se definisse um lugar feito para ti, para mim, para todos nós. E fica logo ali, a 23º56’26” S de latitude e 46º19’47” W de longitude. O que está esperando?

PS: para saber mais sobre Paraty, acesse http://www.pmparaty.rj.gov.br/

Uma outra viagem

Estava querendo escrever sobre Paraty. Estou querendo... Decidi, porém, adiar para falar de uma outra viagem, uma viagem feita agora há pouco. Foi profunda, séria e extremamente satisfatória. Diria que foi um êxtase! Fui a um bate-papo com estudantes de Jornalismo do Isca Faculdades, de Limeira. Lá pelas 22h15, já no encerramento, um jovem levanta a mão e faz a pergunta derradeira: "Ser jornalista lhe dá satisfação?".
Parei. Fiquei uns 30 segundos pensativo. Não sabia o que falar. Senti a responsabilidade da resposta. Nunca tinha parado para fazer essa viagem ao meu íntimo e, paradoxalmente, esta é a viagem que mais tenho feito nos últimos tempos. Na verdade, nunca alguém tinha me perguntado sobre isso assim, em público. Respirei fundo, mergulhei no fundo da alma, lembrei do que tinha escrito neste blog no espaço destinado ao perfil e comecei a falar."Sou jornalista por uma questão sangüínea, como disse no meu blog." O resto desta viagem ficará reservado àquelas pessoas que estavam lá. Não conseguiria repetir com tanta profundidade - e aquela manifestação exigiria isso. Senti-me estranhamente bem. Senti que naquele momento cumpri o meu papel...

PS: ... reforçou-me esse sentimento ouvir um amigo dizer: "Piscitelli! Deu até vontade de chorar". Ante um olhar inquisidor, ele reafirmou. "Deu mesmo!". Como sei que ele é sincero, deve ser verdade. E ele deve ter ficado com vontade de chorar mesmo. Só não quis fazer isso em público...

Ocidente e oriente, passado e futuro

"Não é nada fácil se acostumar às diferenças culturais da Coréia do Sul. É tudo muito diferente daquilo a que nós, brasileiros, estamos acostumados. No Brasil, por conta da imigração japonesa, o referencial que temos de Oriente é o japonês. E a Coréia é completamente diferente do Japão. É como comparar o Brasil com a Argentina, com população, cultura e costumes completamente diferentes."
Este é um trecho de uma reportagem assinada por Jocelyn Auricchio para a Agência Estado. Uma boa síntese, que me fez pensar na Argentina e no Japão. E em diferenças culturais. Conhecer Buenos Aires, a capital argentina, é mergulhar num lugar que parece viver do passado. Sim, a cidade é bela, um pedaço da Europa na América do Sul. E é justamente isto que se torna sua qualidade e seu defeito (talvez esta seja uma palavra forte...). É inevitável sentir um certo clima de melancolia, uma tristeza no ar de quem já não é mais o que um dia foi... É um tango.
Tóquio, a capital japonesa, é o oposto. Vê-se a tradição em muitos cantos, mas predomina o ar de modernidade. Ao contrário de Buenos Aires, o clima é "hi-tech", de quem já é o que os outros talvez um dia serão.

Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habra más penas ni olvido
(Letra: Alfredo Le Pera; música: Carlos Gardel, 1934)

*** Se você quiser ler toda a reportagem mencionada, acesse os comentários logo abaixo.

Uma cidade, outras cidades

Algumas coisas são feitas para turistas. Muitas vezes, esta afirmação carrega um sentido pejorativo. Algumas destas vezes, este sentido faz sentido. Isto, porém, não é uma regra. Quando visito um lugar, procuro conhecer tudo o que foi feito para turista. Tento, porém, buscar tempo para descobrir coisas feitas para o cidadão comum. Assim, tão prazeroso quanto conhecer a "Miss Liberty" é passar uma hora sentado numa praça repleta de estudantes fazendo malabarismos, cantando, dançando, protestando, fumando (maconha até?) num canto qualquer do Village.
Claro que todos vão querer saber da Estátua da Liberdade (a tal "miss"). Vão considerar uma blasfêmia não ter ido ao local. Poucos - ou ninguém - vão perguntar sobre uma praça repleta de estudantes no Village. Não estranharão a sua ausência. A famosa estátua estará no relato de dez entre dez turistas que forem a Nova York. A tal praça, ao contrário, será um relato quase único (triplo no meu caso).
Há, sim, uma cidade feita para turista. E isto é bom! Há, também, uma outra cidade, reservada aos olhares mais atentos e dispostos. É a mistura de ambas que enriquece uma viagem. Limitar-se à primeira fará de você mais um turista. Ir além o tornará um turista único. Afinal, longe dos pontos turísticos, cada um faz a sua própria cidade.

Em tempo: em Nova York, não deixe de ir a qualquer pequeno restaurante do Village. Se bobear, alguém dirá que os brasileiros estão voltando e que os americanos são "open mind", mas não a ponto de eleger um... deixa para lá. Quem sabe você não encontra por perto a tal praça repleta de estudantes?

!Hola Madrid! - Uma ode (não em forma, mas em sentimento)

Viajar é muito mais uma questão sensorial e psicológica do que propriamente aventura, lazer, diversão. Bem, talvez não seja para todas as pessoas, mas para mim é. Talvez por isso seja difícil não gostar de um lugar - cada localidade tem suas especificidades que, geralmente, vão muito além da beleza.
Sensorialmente falando, pois, um dos lugares mais fascinantes é a Plaza Mayor, coração de Madrid e, talvez, da Espanha. Não o coração geográfico (este está na Puerta del Sol), mas o coração que pulsa. A tal praça é um grande espaço aberto - por vezes ocupado por barracas - cercado de prédios antigos e históricos, de uma arquitetura fascinante. É bela. Mais que isso, porém, transborda emoção. Pisar naquele chão é iniciar uma outra viagem. Se você se entregar, rapidamente verá que está num local onde reis e rainhas desfilaram, cavaleiros lutaram, nobres festejaram e brigaram, inimigos foram assassinados... Não, você não encontrará estas cenas em lugar nenhum na Plaza Mayor; ao mesmo tempo, tudo está lá, em cada pedra, em cada ponto. Basta querer enxergar.
Ah, e tem um detalhe pitoresco - e, claro, essencial: se você percorrer os cantos da praça com atenção, encontrará em um deles a Ciudad Rodrigo!

PS: esta postagem é especial. E o motivo um amigo há de saber. É pra você! Seja bem-vindo!

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