A Alemanha é linda


Normalmente minhas viagens são planejadas – ou melhor, sonhadas. Confesso, porém, que conhecer a Alemanha não fazia parte dos meus planos iniciais. O País, belo e organizado, não figurava no topo da minha lista de prioridades. Nunca imaginei que seria ela a minha entrada no continente europeu. Pois uma brincadeira de amigos me levou até a Alemanha em outubro de 2005. Talvez seja este o País que mais conheci, afinal foram 20 dias de Singen, na fronteira com a Suíça, até Bremerhaven, ao norte, descendo novamente até Munique, na Baviera. De carro.
A Alemanha é surpreende. Claro que ela não tem a fama de Paris e Londres, mas tem uma história tão rica quanto a desses lugares e pontos turísticos tão fascinantes quanto o de qualquer outro país europeu. Encontram-se castelos, por exemplo, por todo canto. Vêem-se cidades fenomenais (como Munique). Topa-se com o calor da Segunda Guerra – e do nazismo – em cada esquina (muitas vezes não fisicamente, mas na alma das pessoas e dos lugares). Sim, a guerra faz parte da vida da Europa e a Segunda Guerra ainda expõe suas cicatrizes (pois a geração que a viveu ainda está aí para contar suas histórias). As divisões ainda são visíveis (a parte oriental é muito diferente da ocidental, de quem esteve separada durante décadas).
A Alemanha tem carrões, que trafegam a 200 km/h nas suas belas auto-estradas (as autobahn); a Alemanha tem cervejas, muitas; tem spretzel; tem gente que acolhe os turistas, muitas; tem gente que os abomina simplesmente porque não falam alemão, e sim inglês. A Alemanha é organizada, politizada, tem belas igrejas (a Catedral de Colônia é fenomenal), belos metrôs, belas vilinhas (como Odenthal e Schwäbisch Hall), belos rios (o Reno é lindo). A Alemanha tem uma língua indecifrável, uma comida surpreendentemente boa (eu detesto a culinária tradicional alemã, mas a do dia-a-dia é interessante), tem uma completa falta de jogo de cintura que nos faz rir (nós, brasileiros, campeões do “jeitinho”). A Alemanha tem, é claro, belas alemãs, outras não tão belas assim (aquelas que se parecem com generais). Tem belas florestas, belos parques, um clima delicioso (para quem gosta de um certo frio), é moderna e antiga ao mesmo tempo.
Sim, se alguém me perguntar, responderia sem hesitação: vale a pena conhecer a Alemanha. Eu voltarei para lá, tenho certeza disso.

PS: esta postagem é uma homenagem ao Hans e sua esposa Christine; à dra. Lotte Köhller; ao dr. Albert Schimidt; à Renate Hahn; à Jussara e ao Joahnnes; e às “moças” de Möschied, Érika e Johanna, que quase me pediram em casamento.

NY, NY

Esquina do mundo (Start spreading the news), multifacetada (I'm leaving today), heterogênea (I want to be part of it), terra da liberdade (These vagabond shoes), metrópole (Are longing to stray), centro financeiro (Right through the very heart of it), cidade que nunca dorme (I wanna wake up in a city), nunca (That doesn't sleep)!
Coração da América (And find I'm king of the hill), terra das oportunidades (Top of the heap), onde se dita moda (These little town blues), onde jogam os Knicks (Are melting away), os Rangers (I'll make a brand new start of it, In old...), terra de Woody Allen (If I can make it there), de Sinatra (I'll make it anywhere)!
Cidade do MoMA (I want to wake up in a city), do Guggenhein (That never sleeps), da Little Brazil (And find I'm a number one), do Central Park (Top of the list), da Quinta Avenida (King of the hill), da Estátua da Liberdade (A number one), do Empire State (I'm gonna make), da Broadway e seus musicais (A brand new start of it, in old...)!
Terra estrangeira (And if I can make it there), minha e de todos (I'm gonna make it anywhere), da vida e da morte (It's up to you), a Big Apple (New York), que saudade de você (New York)!

PS: a música a seguir é, de fato, pouco original para retratar Nova York, mas ninguém ainda cantou melhor esta cidade.

Momentos únicos

Algumas situações na vida são simples, porém, de forte valor simbólico. Numa viagem, a possibilidade de que estas situações ocorram com maior freqüência é grande. Isso porque, em geral, você está indo para um destino com o qual sonhou em algum momento (ou por muitos momentos), onde irá realizar alguns sonhos (sejam pequenos ou grandes).
Nem sempre estes sonhos são programados - o que eleva a chance de que sejam momentos prazerosos, tamanha a reduzida expectativa que se guardava em relação a eles (sim, há uma relação direta entre expectativa e prazer ou frustração).
Para um viajante que quer mais do que simplesmente conhecer um lugar, o peso simbólico de uma situação pode conferir a ela um valor extra. É o caso, por exemplo, de um encontro com o Mickey para quem sempre sonhou com a magia de Walt Disney. Ou um anoitecer na Chapada Diamantina para quem curte a natureza. Trata-se de dar valor a momentos desprezados e ignorados por muitos. Esta questão passa também e necessariamente pelos gostos e referências pessoais. Assim, para muitas pessoas, caminhar pela Abbey Road - a rua imortalizada pelos Beatles - é simplesmente uma caminhada; para outras, é um momento mágico.
Não há, portanto, como qualificar o peso de cada situação, de cada lugar. É uma questão meramente individual. São momentos que, às vezes, duram segundos eternos (sim, os olhos têm uma curiosa capacidade de transportar imagens para a mente e o coração, eternizando-as). Algumas pessoas os definem como momentos únicos - resultados do cruzamento perfeito entre espaço e tempo.
Isso tudo pode parecer filosófico demais, abstrato demais, para um blog que pretende falar de viagens. Contudo, são estes momentos aparentemente abstratos que fazem toda a diferença numa viagem. Se você ainda não os experimentou, tente. Permita-se olhar de modo diferente para um lugar, arrisque-se a sentir um cheiro que ninguém mais sente, busque ver o que ninguém mais vê. Faça isso e terá como resultado um momento único.

PS: sentar na margem do Rio Sena foi um momento único, que tornou-se ainda mais prazeroso pelo acaso.

Um "maldito português"

Gosto muito de arte (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um apreciador). Gosto muito de foto (não, não sou um expert no assunto, sou meramente alguém que gosta de ver e tirar fotos). Gosto muito de viajar (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um turista casual). Quando tenho a oportunidade de unir todos estes gostos num só momento, sinto-me realizado.
Na minha última viagem, uma incursão por cidades européias, capturei belas imagens (modéstia à parte...). Meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos movem meu espírito (ou será que meu espírito move meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos?).
Talvez seja por isso que perder a máquina de fotos na viagem - e logo no segundo dia - me deixou desnorteado. Por mais que o amigo que me acompanhava disponibilizasse a máquina dele para todas as minhas maluquices (e ele fazia questão de me deixar à vontade para usá-la), tratava-se de uma questão pessoal, uma relação fraternal entre minha máquina e eu.
Domingo, em Lisboa, não seria possível procurar alguém para tentar arrumar minha câmera novinha, que fazia apenas sua segunda viagem. A saída seria comprar outra. E lá se foram quase 300 euros não programados para tal finalidade. Não importava; o essencial era estabelecer uma nova relação fraternal com aquela nova máquina.
Parece loucura, mas só quem é apreciador de fotos consegue entender. Assim como escritores admiravam suas Olivetti, fotógrafos também admiram suas máquinas (ainda que eu não passe de um fotógrafo amador).
A história da perda da minha máquina rapidamente atravessou o Atlântico. Numa tentativa de tentar livrar meus 300 euros, lembrei-me que meu pai havia comentado que queria uma máquina de fotos nova. Quem sabe ele não se dispusesse a pagar? Liguei para casa, fiz a consulta e... nada. Meu pai não fazia questão da máquina. Após o telefonema, a notícia se espalhou de tal modo a ponto de quase todo mundo saber, no meu retorno, da máquina perdida depois que um português deixou-a cair no Palácio de Queluz (que chique, minha máquina foi quebrada no chão de um palácio!).
Claro que, na hora, desejei muitas coisas ruins ao "português maldito". Depois, tentei me conformar. Em vão - o amigo que me acompanhava viu que seria impossível. "Pare de mexer nesta máquina, você vai piorar ainda mais a situação", dizia ele. Em vão - eu segui mexendo até que ela parou de vez. Para piorar, a máquina do meu amigo estava ficando sem bateria. Tudo isso acontecia no mesmo lugar onde eu estivera um ano e meio antes, quando fiquei sem bateria na máquina. "Não, não vou passar por aqui de novo sem fazer uma foto", pensava.
Essa situação, porém, ajudou a dar uma graça extra àquela tarde ensolarada de Lisboa. Ríamos muito a cada tentativa de fazer uma foto-relâmpago (sim, porque era ligar a máquina, correr e rezar para a bateria agüentar).

PS: o "maldito português" que derrubou - e quebrou - minha máquina está perdoado.

Em tempo: sem uma máquina, como poderia capturar a imagem na Catedral de Notre Dame (Paris) que abre esta postagem?

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