Um "maldito português"

Gosto muito de arte (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um apreciador). Gosto muito de foto (não, não sou um expert no assunto, sou meramente alguém que gosta de ver e tirar fotos). Gosto muito de viajar (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um turista casual). Quando tenho a oportunidade de unir todos estes gostos num só momento, sinto-me realizado.
Na minha última viagem, uma incursão por cidades européias, capturei belas imagens (modéstia à parte...). Meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos movem meu espírito (ou será que meu espírito move meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos?).
Talvez seja por isso que perder a máquina de fotos na viagem - e logo no segundo dia - me deixou desnorteado. Por mais que o amigo que me acompanhava disponibilizasse a máquina dele para todas as minhas maluquices (e ele fazia questão de me deixar à vontade para usá-la), tratava-se de uma questão pessoal, uma relação fraternal entre minha máquina e eu.
Domingo, em Lisboa, não seria possível procurar alguém para tentar arrumar minha câmera novinha, que fazia apenas sua segunda viagem. A saída seria comprar outra. E lá se foram quase 300 euros não programados para tal finalidade. Não importava; o essencial era estabelecer uma nova relação fraternal com aquela nova máquina.
Parece loucura, mas só quem é apreciador de fotos consegue entender. Assim como escritores admiravam suas Olivetti, fotógrafos também admiram suas máquinas (ainda que eu não passe de um fotógrafo amador).
A história da perda da minha máquina rapidamente atravessou o Atlântico. Numa tentativa de tentar livrar meus 300 euros, lembrei-me que meu pai havia comentado que queria uma máquina de fotos nova. Quem sabe ele não se dispusesse a pagar? Liguei para casa, fiz a consulta e... nada. Meu pai não fazia questão da máquina. Após o telefonema, a notícia se espalhou de tal modo a ponto de quase todo mundo saber, no meu retorno, da máquina perdida depois que um português deixou-a cair no Palácio de Queluz (que chique, minha máquina foi quebrada no chão de um palácio!).
Claro que, na hora, desejei muitas coisas ruins ao "português maldito". Depois, tentei me conformar. Em vão - o amigo que me acompanhava viu que seria impossível. "Pare de mexer nesta máquina, você vai piorar ainda mais a situação", dizia ele. Em vão - eu segui mexendo até que ela parou de vez. Para piorar, a máquina do meu amigo estava ficando sem bateria. Tudo isso acontecia no mesmo lugar onde eu estivera um ano e meio antes, quando fiquei sem bateria na máquina. "Não, não vou passar por aqui de novo sem fazer uma foto", pensava.
Essa situação, porém, ajudou a dar uma graça extra àquela tarde ensolarada de Lisboa. Ríamos muito a cada tentativa de fazer uma foto-relâmpago (sim, porque era ligar a máquina, correr e rezar para a bateria agüentar).

PS: o "maldito português" que derrubou - e quebrou - minha máquina está perdoado.

Em tempo: sem uma máquina, como poderia capturar a imagem na Catedral de Notre Dame (Paris) que abre esta postagem?

2 comentários:

Capitu disse...

professor ahha isso
acontece nas melhores
viagens
=]

Ana Paula disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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