Supermercados, um prazer

Viajar, para mim, é muito mais do que diversão. É muito mais do que conhecer pontos turísticos, lugares. É conhecer culturas, modos de vida. Para isso, uma série de itens entra no meu roteiro, como caminhar muito, parar em muitas confeitarias, pubs ou seja lá o que for a característica do destino, ir a uma banca comprar um jornal (eles dizem muito de uma sociedade) e ir a um supermercado. Isto mesmo, sempre procuro entrar num supermercado quando viajo.
Houve quem se espantasse com essa mania até certo ponto extravagante. Supermercado? Seria desnecessário tentar explicar. Se há um local que resume uma cultura, seus gostos alimentares, sua economia, seu modo de vida, é o supermercado. Sem contar que, estando em outro país, inevitavelmente surgirão produtos inusitados, como o Roscón dos Reyes na Espanha (algo como o nosso panetone, só que em formato de rosca). Sim, na Espanha se come o roscón dos reyes...
É interessante notar, por exemplo, que muitas marcas são mundiais; é divertido tentar achar algo peculiar do Brasil (quem sabe a 51?); é interessante ver que o arroz só é vendido em pacotes pequenos porque não faz parte das refeições diárias; é surpreendente verificar a variedade de produtos, algo inimaginável nos mercados brasileiros; é enriquecedor conhecer novas frutas ou constatar que elas e os legumes são vendidos como se tivessem sido polidos tamanho o brilho.
Ah, sem contar que em alguns lugares os supermercados viram a meca da refeição barata!
Sim, os supermercados são reveladores e surpreendentes. Para quem se dispõe a conhecer a fundo uma comunidade, eles são prato cheio. Sem contar que divertem. Eu passo minutos (talvez horas) andando por entre as gôndolas prazerosamente, olhando preços, marcas, nomes, utilidades. Aprendendo.
Normalmente, sempre trago algo na bagagem. Isto, porém, é mero detalhe. O mais importante é o conhecimento adquirido. E como conhecimento deve ser compartilhado, eu costumo carregar na mala aqueles folhetos de propaganda. Pois eles permitirão dividir com os amigos um pouco do que aprendi.
Portanto, em sua próxima viagem, pense bem quando cruzar com um supermercado em seu caminho. Ainda que seja breve, uma passada por suas prateleiras pode ser uma boa experiência.

PS: o folheto que ilustra esta postagem é do Mini Mal, um hipermercado (o mini é só o nome) que me ensinou, me distraiu e me alimentou em Munique, na Alemanha.

Os encantos de Natal

Muitas pessoas podem perguntar porque as postagens internacionais predominam neste blog. A resposta é simples: porque têm sido as minhas viagens mais freqüentes. Sim, eu confesso, não conheço nada do Brasil para cima de Vitória (ES). Sim, eu não conheço o Nordeste. Sei que um dia vou conhecer, mas admito que a região não está na minha lista de prioridades. Não, não se trata de nenhuma frescura ou de falta de valorização do que é nosso. Ao contrário: sei que o Norte/Nordeste é maravilhoso. Tenho uma vontade particular de conhecer os Lençóis Maranhenses - provavelmente este seja o meu primeiro destino lá para cima.
Enquanto não incluo Fortaleza (CE), Natal (RN) e cia. nos meus planos de viagens, vou curtindo os relatos alheios. Minha mãe acabou de voltar de Natal. Ela já conhece Porto Seguro (BA), Fortaleza, Maceió (AL) e agora a capital do Rio Grande do Norte. Ou seja, muito mais do que eu. Ela adorou Fortaleza. Acho, à distância, que a capital cearense tem uma infra-estrutura melhor. Foi de Natal, porém, que ela trouxe as mais belas imagens - dela, registre-se (antes que algum fotógrafo profissional ou algum turista qualquer me critique).
As fotos de Natal não deixam dúvida: nosso litoral é abençoado por Deus e bonito por natureza! É difícil escrever sobre um lugar sem ter estado lá - para mim, viajar é essencialmente "sentir" os lugares. Arrisco-me, porém, a falar de Natal. Embora não a conheça, a cidade tem algo de mágico. Sim, eu sei o que é: é o fato de estar lá naquele cantinho do Brasil, bem no alto. Parece o ponto final (sim, há Fernando de Noronha mais à direita, mas já é fora do continente). Natal, portanto, parece ser um destino paradisíaco.
As dunas e as falésias natalinas são um encanto. O cajueiro gigante também - aliás, onde está aquele famoso menino? Minha mãe não o encontrou... O mar? Ah, o mar, aquele esverdeado que se mistura com o azul do céu num lado e com o escuro da areia em outro, produzindo um efeito visual mágico que faz das pessoas meros detalhes nas fotografias (que me perdoem minha mãe e todos aqueles que se acham o centro das fotos, mas a paisagem é deslumbrante).
Muitos poderão dizer que esta descrição cai bem para qualquer capital nordestina (e suas redondezas, porque a beleza mora mesmo longe dos centros urbanos). E é verdade, mas eu escolhi Natal. Escolhi Natal porque me encantei pelo canto da cidade, um canto ouvido à distância, trazido na mente e traduzido em sorrisos. Se é, pois, difícil escrever sobre a alma de um lugar que não se conhece, mais difícil ainda é sentir a alma de um lugar desconhecido. Pois eu consegui, quase como numa atividade mediúnica, sentir as cores, os cheiros, os ritmos e os sabores de Natal. Alguém duvida? Tente, então, entregar-se à imaginação e verá que é possível. Depois, é só arrumar as malas.

PS: Natal tem origem portuguesa, ligada à construção da Fortaleza dos Reis Magos em 6 de janeiro de 1598. Em 1633, a fortaleza foi ocupada pelos holandeses e a cidade virou Nova Amsterdã até 1654. Quer mais que uma cidade que mistura portugueses e holandeses em sua história?

Caminhar é preciso

Houve um presidente que disse certa vez que governar é construir estradas. Pois, para mim, viajar é construir pontes. Pontes imaginárias. Para tanto, caminhar é essencial. Os metrôs e ônibus são práticos e, muitas vezes, indispensáveis, mas não é possível conhecer um lugar a fundo, a sua alma, sem que se tenha caminhado.
Apenas a caminhada permite que se veja o cotidiano, que se sinta o clima, que se observe as feições, que se conheça as entranhas e os segredos de um lugar. Quem abre mão desse prazer está indiscutivelmente perdendo. Perdendo o que é, talvez, tão importante quanto qualquer ponto turístico: a alma de um lugar.
Em qualquer roteiro de viagem, uma caminhada é essencial. Daí ser um tanto estranhas aquelas viagens tipo foguetão, em que se desce do ônibus para ver um ponto turístico (quando se desce) e sobe-se novamente para ir ao próximo. Já participei desse tipo de viagem e posso dizer: é frustrante. Tem-se a mesma sensação de um cartão postal - ou seja, estive lá, mas é como se não tivesse estado.
Se navegar um dia foi preciso, caminhar é preciso. Subir e descer ladeiras, passear nos parques, cruzar ruas e avenidas... E não basta ser uma caminhada apressada. É preciso entregar-se a esta tarefa, permitir que a alma do lugar e a alma do turista tornem-se uma só. Pode parecer abstrato - e é. Como aprendemos na escola, abstrato é tudo aquilo que não podemos desenhar. Pois é impossível desenhar o sentimento captado numa caminhada. Ouvir sotaques, observar as roupas e os costumes, ver a limpeza ou a falta dela, sentir o ordenamento do trânsito ou a falta dele... Definitivamente, caminhar é preciso.
O mais interessante e importante disso tudo é que uma vez entregue à caminhada, facilmente o viajante chegará à conclusão de que nunca, nunca, uma mesma caminhada será igual à outra - ainda que se esteja passando pelo mesmo lugar. Eis a vida. A vida de uma cidade, que muda a cada instante. E com um pouco de sorte e determinação, a caminhada poderá levar a algum lugar agradável. Quem sabe a um ponto turístico ou a um barzinho.
Sim, você poderá ir à Torre Eiffel - e deve ir. Contará sua história e sua versão. Muitos, talvez, compartilhem de suas emoções. Ninguém, porém, há de caminhar como você. Sem uma caminhada, você poderá até ter conhecido a Torre Eiffel; só com uma caminhada, contudo, terá conhecido Paris.
E isto vale para Londres, Nova York, São Paulo, para sua cidade, seu bairro...

Souvenir 1

A Internet, para quem não pode ficar viajando para todos os cantos do mundo, tem se revelado um bom caminho para quem aprecia cultura, lugares, etc. Para quem é, enfim, um turista por natureza. Basta ser um turista virtual. Pois eu tenho descoberto algumas coisas interessantes. Tem um fotógrafo britânico que decidiu unir duas paixões de um turista: foto e souvenir.Michael Hughes faz fotos colocando souvenires no lugar de monumentos de verdade.
O resultado é muito interessante. Confesso que, como turista, sempre quis fazer aquelas coisas básicas, como simular que estou com a Torre Eiffel na mão (ou empurrando a Torre de Pisa, quando estiver na Itália), mas o inglês foi muito mais criativo - até por isso ganhou destaque e eu não.
Com esse trabalho, Hughes deu uma definição interessante sobre os souvenires - que dedico a um amigo que tirou tanto sarro do Manneken Pis (o menino mijão de Bruxelas) e acabou pegando para ele a estatuazinha do dito cujo. "Nada é sagrado no mundo dos souvenires e eles nos tocam mesmo sendo cafonas".

Em tempo: abaixo algumas criações de Hughes. Para quem tiver curiosidade, o acervo dele está disponível no Flickr: http://www.flickr.com/photos/michael_hughes/sets/346406.

Souvenir 2






Criações de Michael Hughes (de cima para baixo): Holanda, Atenas (Grécia), Egito, London Bridge (Londres, Inglaterra) e Torre Eiffel (Paris, França)

Postagem em destaque

A Veneza verde do Norte

A tecnologia que empresas suecas levam mundo afora hoje em dia não é um acaso. O país tem vocação para invenções e descobertas. O passado v...

mais visitadas