Relatos da Noruega

Um dos objetivos do Piscitas é buscar experiências alheias que sirvam como estímulo para viagens. Pensando nisso, este blog já trouxe relatos dos jornalistas Paulo Silas (Canadá) e Kelly Camargo (museus) e do publicitário Cristiano Persona (museus). Agora, sugiro o relato da jornalista, linguista - e amiga – Érika de Moraes. Ela esteve na Noruega por meio de um programa do Rotary e colocou em seu blog uma série de relatos. Eu recomendo!
Os relatos misturam informações com impressões da turista Érika, sem contar as belas fotos.
Ela traz o relato sobre as festividades do Dia Nacional em Bergen (“É difícil descrever, fiquei admirada com o orgulho que o povo tem do país...”), curiosidades sobre a Noruega (“vale a pena experimentar o sorvete de massa de Bergen! Curti o de plomme [uma fruta de sabor fresco que combinaria com o Brasil] e o de valnott [nozes]..."), a aventura de subir no Preikestolen (“são 704m de altura, numa subida de cerca de 2h30 [mais o tempo de descida], com trechos bastante íngremes e rochosos...”), além de uma postagem bem humorada sobre a cabeça do bacalhau (sim, ela existe e Érika mostra!).
Para deixar um gostinho, seguem duas fotos retiradas do blog da Érika.


Marcas da história em Weimar

Embora as grandes capitais do mundo sejam fascinantes, é por meio das pequenas cidades que se conhece um país. Lembrei disto ao ler recentemente a resenha de um livro (“Goethes Reise nach Brasilien - Gedankenreise eines Genies” ou “A Viagem de Goethe ao Brasil - Viagem Intelectual de um Gênio”) que revela a paixão de Goethe, famoso poeta alemão, pelo Brasil e suas maravilhas. O material saiu na “Folha de S. Paulo”.
Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) viveu em Weimar (onde morreu em 22 de março), cidade da Turíngia (ver no mapa), na porção centro-oriental da Alemanha. Trabalhava como ministro e poeta da corte, informa a resenha.
Weimar é uma cidade histórica (património da humanidade pela Unesco), marcada por um passado recente e um outro mais distante. Recente devido às marcas do nazismo e distante em razão do período setecentista – época em que foi, segundo a resenha, “ponto de encontro de escritores e intelectuais europeus” (Nietzsche também morou lá). A cidade abriga a Universidade da Bauhaus e está a seis quilômetros do campo de concentração de Buchenwald (por onde passaram 250 mil prisioneiros, 50 mil dos quais morreram).
Junto com Gotha e Rudostadt, Weimar forma uma espécie de triângulo de antigos arquivos alemães que eu visitei em outubro de 2006.

Cada uma a seu estilo, essas cidades revelam muito da Alemanha de ontem e de hoje. Em Rudolstadt, prevalecem as marcas de um passado que nunca se vai. Lá, o tempo parece ter parado. Contribuem muito para isso seu clima um tanto bucólico, o Schloss Heidecksburg (castelo que fica no topo de um morro e foi erguido em 1737) e as lembranças de seus moradores, lembranças de um tempo que ficou perdido.


Em Gotha, embora lá esteja um conjunto arquitetônico belíssimo da antiga nobreza, o ar é mais moderno. Não se pode deixar de enaltecer, porém, a singularidade de seu palácio (o Schloss Friedenstein, em estilo barroco, cuja construção começou – sobre as ruínas do castelo Grimmenstein - em 1643 por ordem do duque Ernst I, indo até 1656).

É em Weimar, porém, que a história se mostra mais viva. Nesta cidade, o nazismo deixou profundas marcas – que eu descobri por acaso. Tudo começou durante a visita ao arquivo local, num prédio que mistura uma fachada um tanto antiga com um interior mais do que moderno. Era exatamente onde funcionava a sede regional da Gestapo, a polícia secreta nazista. Escritórios que “se tornaram testemunhas silenciosas de interrogatórios terríveis e abusos brutais”, cita um folder disponibilizado aos visitantes.

No local, antes da entrada do arquivo propriamente dito, chama a atenção um amontoado de pedras no chão, como se tivesse ocorrido ali uma recente demolição. O que aparenta ser entulho, porém, é um monumento em homenagem aos que ali sofreram as mazelas nazistas. A história dessas pessoas veio à tona em julho de 1945, quando 142 corpos de homens e sete de mulheres foram exumados e transportados a um cemitério municipal. Todos foram mortos na floresta de Webicht, perto da ferrovia que liga Weimar a Jena, com tiros nas costas.
O extermínio em massa se deu provavelmente em 4 de abril, após a ordem de retirada dada pelos nazistas (que já tinham perdido a guerra). Segundo o folder, “há evidencias de que a Gestapo de Weimar cometeu uma série de assassinatos na sua marcha de retirada antes da chegada dos soldados norte-americanos”. Dos corpos encontrados, só 45 puderam ser identificados pelos seus números de prisioneiros; 101 permanecem desconhecidos.
São justamente os nomes dessas pessoas que estão encravados no chão junto das pedras. Tal história foi contada, não sem um certo ar de constrangimento, pelo diretor do arquivo local. Mais detalhes foram obtidos no folder – um claro sinal de que, apesar do constrangimento, os alemães (ou a maioria deles) não querem esconder essa parte triste do passado.
Sim, viajar é viver emoções e trombar com a história em uma esquina qualquer.

PS: no verão de 1938, o estado nazista organizou um boicote a todas as lojas de judeus na Turíngia. Era uma medida para a “arianização” da região. A deportação de famílias judias para os campos de extermínio na Europa oriental começou na Turingia em maio de 1942 e foi dirigida e supervisionada pelo escritório da Gestapo em Weimar. O primeiro grupo saiu dia 10 com 342 judeus – incluindo homens, mulheres e crianças. Outras levas saíram posteriormente, inclusive para Auschwitz (em 1944), o mais famoso campo de extermínio, na Polônia.

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