NY na visão de um repórter

O Twitter tem, sim, algumas utilidades. Uma delas, por exemplo, é estimular as pessoas a dividir seus momentos com as outras. Como jornalista, por exemplo, sigo muitos jornalistas “twiteiros”. Um deles costuma postar fotos da cidade onde trabalha. São flagrantes do dia-a-dia de Nova York sob a visão do repórter Rodrigo Bocardi, um dos repórteres da TV Globo nos Estados Unidos.
Muitas das imagens são belas, outras são interessantes, outras mostram um lado de NY desconhecido por muitos. Eu decidi reuni-las e, sob o ritmo de “Empire State of Mind”, você poderá vê-las a seguir. Garanto que vale a pena.

Um templo da cerveja

Em alguns lugares, mais do que em outros, algumas tradições têm mais valor. É o caso da cerveja na Alemanha. Embora essa bebida seja famosa em muitos outros lugares, é na Alemanha que se tem a sensação de fazer parte da sua história. Mais precisamente em Munique, cidade que sedia a Oktoberfest – a original.
Estive em Munique (ou München, para os mais íntimos) em outubro de 2005. Outubro, oktober... Sim, estive em Munique em plena Oktoberfest. Vi a festa apenas pela TV. Na ocasião, eu e o casal de amigos que me acompanhava (ou melhor, a quem eu acompanhava) não quisemos ir até a “muvuca”.
Obviamente que me arrependo disso.

Ainda assim, não posso dizer que estive longe da verdadeira tradição da Baviera – a cerveja. E estive num lugar tão tradicional quanto a Oktoberfest. E sem saber da grandiosidade dele.
Devo antes de mais nada agradecer à Jussara e ao Iannis, nossos anfitriões na cidade, por nos apresentar ao Kloster Andechs. Estivemos lá numa tarde de sol, porém fria, do sábado dia 8. Foi logo depois de uma visita ao Lago Ammersee (localizado a sudoeste de Munique, entre as cidades de Herrsching e Diessen, é o sexto maior da Alemanha, com superfície de 47 quilômetros quadrados).

Do Iannis, um grego casado com a limeirense Jussara, recebemos a informação de que o Kloster era um antigo mosteiro que fabricava uma cerveja típica. Interessante. Devia ser por volta de 16h e o local estava lotado. Àquela hora e os alemães faziam fila para comprar einsbein (o famoso joelho de porco). Fila! E cerveja, claro! Como bebiam. A opção mais modesta era o copo-jarra de meio litro... Foi a nossa escolha – pedi uma cerveja clara, tradicional. O Iannis, uma escura.
Não quisemos o einsbein. Ficamos mesmo no pretzel (uma espécie de pão-salgadinho com a consistência daqueles palitinhos com sal vendidos no Brasil, em tamanho maior e formato semelhante ao de um nó; são bem tradicionais na Alemanha). Pedi também uma espécie de sorvete de creme com pimenta em pó – que, por sinal, foi um bom acompanhamento para a cerveja.

Como disse, fazia um pouco de frio – algo como 10 ou 12 graus. Descobri que a cerveja não é servida quente na Alemanha, como muitos dizem erroneamente. Ela apenas não é “estupidamente gelada”, como aqui nos trópicos. Aliás, não precisa. Basta estar mais ou menos na temperatura ambiente (deles!).
O Kloster (claustro, em alemão) era até certo ponto modesto, embora tivesse uma igreja ricamente ornamentada. Ele fica em cima de um morro, o que garante aos visitantes uma vista magnífica da região.

Naquela tarde fria do sábado dia 8, confesso que me ative mais à vista que o lugar proporcionava e à observação da cultura alemã do que à cerveja em si. Aliás, a cerveja foi mesmo um detalhe naquela tarde – para não dizer que tinha ido a Munique e não tinha experimentado a sua mais tradicional bebida.
Só agora, quatro anos depois, descobri que estava num verdadeiro templo sagrado - e não só para os cristãos. Num templo sagrado da cerveja! A descoberta se deu ao ler o “Guia Ilustrado Zahar Cerveja”, editado por Michael Jackson (não o cantor, obviamente).
Logo no início da obra, ao fazer um histórico da bebida, o editor cita a tradição das cervejas nas ordens sagradas (página 17). “Dizem que havia mais de 500 mosteiros com cervejarias em toda a Europa”, escreve. “A Alemanha tem muitas antigas abadias cervejeiras, cujos nomes em geral começam com a palavra kloster”. A seguir, o guia menciona dois mosteiros que possuem cervejarias ativas próximos a Munique – ambos beneditinos. Um deles se chama... Andechs.
Foi a deixa que me levou de volta ao álbum de fotos daquela viagem. Cismei que tinha estado num lugar famoso e sagrado e não sabia. Ao encontrar a imagem, vi a legenda que eu mesmo havia escrito anos antes: Kloster Andechs. Eureka!

Eu estive lá. E se soubesse do seu devido valor, não teria sido só uma cerveja...

* A foto da Oktoberfest foi retirada do site oficial do evento. As demais são minhas.

As curvas de NY

O Museu Guggenhein está completando 50 anos. E para marcar a data, uma exposição com trabalhos de Kandinsky foi montada. A escolha não foi aleatória. O artista russo estava lá, ou melhor, representado por suas obras, na abertura do museu.
Para uma cidade como Nova York, que abriga o MoMA, o Guggenhein poderia ficar em segundo plano. Poderia. Não há, porém, como não se inquietar (no bom sentido) diante dele. E decididamente o que contribui para essa sensação tem a assinatura de Frank Lloyd Right. A arquitetura do museu é indiscutivelmente atraente e provocativa. O arquiteto conseguiu, à la Niemeyer, fixar um monte de curvas numa cidade reta – vertical e horizontalmente. E isto não é pouco.

Confesso que na primeira visita a Nova York, cansado de tantos museus, decidimos (eu e mais dois amigos) não entrar no Guggenhein. Chegamos até ele, sentamos em sua mureta e ali ficamos. Tive, então, que colocar em prática minha tese: sempre deixar algo numa cidade para voltar e ver.
Dito e feito. Na segunda ida a Nova York, o Guggenhein virou prioridade. Como da primeira vez, estive lá debaixo de chuva. Foi lá que o vento quebrou meu guarda-chuva de US$ 5... (mas essa é outra história).
Na ocasião (setembro de 2009), a direção do museu preparava os andares (existem andares naquela rampa circular?) para receber as obras de Kandinsky. Elas já estavam ali, dispostas naquelas gôndolas típicas para carregar obras de arte. Uma e outra aguardavam - encostadas nas paredes - sua vez de serem penduradas. Ângulos, iluminação, tudo tinha que ser checado detalhadamente.
Ainda assim, em “reforma”, o Guggenhein mostrou o seu valor. E este valor passa necessariamente por sua arquitetura. Se suas curvas já são interessantes por fora, por dentro elas são estonteantes. É curioso olhar para todos os lados e não ver um “ponto de referência” – um canto, uma quina, uma parede que possa indicar uma direção. O que se vê é um caracol que, não fosse aquele um prédio mundano, pareceria infinito.
Não é à toa que o trabalho de Frank Lloyd Right ganha tanto destaque na história e na loja do museu quanto as obras do acervo em si.

Portanto, ainda que você tenha se cansado de ver obras de arte numa cidade como Nova York, vá até o Guggenhein porque definitivamente ele vale uma visita. Ainda que seja somente para apreciar sua arquitetura. Esta, pelo menos, será um refresco na paisagem quadrada de Nova York.

PS: não fossem as curvas desenhadas por Frank Lloyd Right, talvez eu não tivesse encontrado o Guggenhein depois de mais de duas horas caminhando pelo Central Park em busca de uma saída... Pensando bem, as voltas ao redor do mesmo ponto no Central Park eram um prenúncio das curvas do Guggenhein.

Em tempo: o "Manhattan Conection" (GNT) de 12/12 trouxe uma matéria sobre o assunto:




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