No Pompidou, tout va bien!

Cheguei ao Centro George Pompidou no meio de uma tarde cinzenta. Estava um tanto cansado das aventuras por museus e confesso que naquele momento me atraía muito mais a arquitetura inusitada daquele prédio do que propriamente o que ele guardava em seu interior – que, aliás, eu desconhecia.
Como uma grata surpresa, porém, o Pompidou – assim chamado pelos íntimos – se revelou. A começar da praça (praça?) na qual está inserido. Um espaço aberto, na verdade uma grande rampa de acesso, onde jovens, senhores e senhoras de todos os cantos dançam, cantam, pintam, leem, namoram, caminham, passam as horas, ou melhor, deixam o tempo passar. Existisse ali alguma banda, não seria exagero chamar aquele local de um pequeno e moderno Woodstock.
Naquela tarde, logo na esquina, artistas anônimos ganhavam seus trocados fazendo caricaturas de dezenas, centenas de turistas. Adiante, um casal de jovens, deitado, lia tranquilamente alguma obra de Proust ou Paulo Coelho, quem sabe. Um outro senhor, solitário, pernas esticadas, aparência de Machado de Assis, folheava um grosso volume. Próximo dele, um grupinho entoava alguns cantos. Um outro casal, ela loira, ele ruivo, fazia um pequeno piquenique. E a família unida, pai, mãe, o filho pequeno brincando com seu cubo colorido enquanto o irmão menor dormia sossegadamente no carrinho, simplesmente vivia a vida.

Da arquitetura esquelética do Pompidou, a tal praça exibe alguns grandes tubos de ventilação brancos. Parecem gigantescos ventiladores. A fachada do prédio lembra aquelas estruturas montadas em festas, um monte de ferro encaixado um ao outro, um gigantesco andaime. Uma escada externa, quase pendurada, reforça a sensação de uma estrutura montada. Seu pátio interior lembra a engrenagem de um relógio. O cinza do ambiente serve de pano de fundo para realçar as cores. O azul predomina. Tem branco, verde, vermelho e amarelo também.


O Pompidou é um centro cultural. Tem cinemas, salas de exposições, galerias, museus, cafés, espaços para entretenimento. É um daqueles locais onde uma das obrigações é simplesmente observar o movimento à sua volta. Experimente fazer isso de um dos cafés do mezanino. Será muito divertido. Ou ainda (e também) da escada rolante, aquela mesma que fica pendurada do lado de fora. Olhe a praça, sinta a energia.
O destaque do centro é o museu de arte moderna e contemporânea. Lá estão pinturas de nomes como Miró, Matisse e Kandinsky e exemplares fantásticos daquele tipo de arte que grande parte das pessoas costuma perguntar: “mas isto é arte?”. Bem, a quem tiver olhos para enxergar, a resposta será sim. Um tipo de arte que faz refletir, alegra e diverte. E isto é a essência do Pompidou. Até porque, lá tout va bien, como avisa o grande mural na entrada do museu.



E como parar e observar é uma obrigação - no Pompidou e em Paris -, decido reservar um tempo para isso na saída. Sento em uma grande estrutura de concreto ou pedra, não sei ao certo. Há gente por todo lado. Há vida por todo lado. Um grupo de jovens se aproxima. Alguns deles se sentam. Parecem italianos. Ou seriam franceses? Não, as línguas são bem distintas. Há mais rapazes do que moças. Um deles, sentado próximo, abraça um colega. Entrelaça-o com as pernas. Trocam afagos. É Woodstock. É o Pompidou. É Paris.
Tout va bien!

PS: faltou algo nesta história. Onde estavam, afinal, as veias e artérias do Pompidou, seus famosos tubos coloridos? É só dar a volta no quarteirão...

* Algumas fotos foram tiradas pelo amigo Cristiano Persona, que compartilhou esta aventura.

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