Uma ponte rumo ao "sweet" Brooklyn

São 1.834 metros que um dia separaram o céu do inferno. Num único dia em 127 anos de história. No fatídico 11 de Setembro de 2001. Naquela manhã, milhares de pessoas tiveram que cruzar a histórica ponte pênsil que liga a ilha de Manhattan a uma das regiões mais charmosas de Nova York, o Brooklyn. Corriam assustadas fugindo de um dos episódios mais selvagens da história contemporânea.A “New York and Brooklyn Bridge”, ou simplesmente Brooklyn Bridge, começou a ser construída em 1869 e foi aberta 14 anos depois, no dia 24 de maio. Em estilo gótico, era a maior ponte suspensa do mundo – e o ponto mais alto de uma Nova York ainda sem os arranha-céus.Com um currículo desses, a Ponte do Brooklyn só podia ter surgido para fazer história. Ela de imediato se tornou ponto de referência na cidade que “nascera” apenas um ano antes do início de sua construção. Sim, a Nova York que conhecemos hoje é fruto da união de seus cinco “boroughs”, ou bairros, que eram cidades independentes – Manhattan, Brooklyn, Queens, Staten Island e The Bronx.Não demorou muito – e não foi preciso muito esforço – para que a nova ponte virasse também referência para os turistas. Todos os anos, milhões de pessoas cruzam a passagem sobre o rio East, a pé ou de bicicleta (há faixas específicas para pedestres e ciclistas). Os carros passam por uma via num pavimento inferior.Na primeira vez que fui a Nova York, um misto de falta de informação e “cansaço turístico” (sim, isto incrivelmente existe!) me fez ver a ponte do Brooklyn apenas à distância, a partir do Píer 17. Na segunda vez, porém, ela me atraiu como ímã. Mal havia descido do avião e já estava caminhando em direção ao City Hall, a prefeitura da cidade, ponto de partida para quem pretende cruzar a famosa ponte. Foi uma caminhada longa e prazerosa, acentuada pelo sol tímido que aparecia por entre as nuvens.

No início da jornada na ponte, no trecho ainda pavimentado, vi à esquerda a também bela – embora menos famosa – e azulada Manhattan Bridge demarcando a região de prédios quase monocromáticos em tom laranja, o Dumbo (sigla para Down Under Manhattan Bridge Overpass, justamente Abaixo da Ponte Manhattan).
Olhar em volta, aliás, é a principal atração para quem se dispõe a caminhar pela Ponte do Brooklyn. À direita, no horizonte, já no caminho de madeira cercado de grades ornamentadas em estilo clássico, repare numa pequenina estrutura. Olhe bem nos contornos e verá uma senhora, mão direita ao alto carregando uma tocha.
Impossível não reparar também no cenário que começa a ficar para trás. Ver Manhattan assim, de longe, dá a noção exata da “selva de concreto” cantada por Jay-Z. E é também um belo contraste com o “doce” Brooklyn que vai se aproximando. Calmamente. Porque a ponte merece ser percorrida vagarosamente.
Com olhos de viajante, você corre um grande risco de se encantar com os grossos cabos de aço que partem das grades laterais rumo à estrutura gótica central, que traz marcado no topo um enigmático “1875”, sinal evidente de sua bem vivida velhice. Logo acima, ventila imponente e solitária a flâmula de listras vermelhas e brancas, com suas estrelas no fundo azul, símbolo do poder.
Simétrica e paralelamente, os cabos se estendem numa perfeita harmonia, tal como harpas gigantes, entoando uma música silenciosa, captada apenas por ouvidos atentos (e dispostos).
Caminhando a partir de suas românticas e charmosas luminárias, você se sentirá cada vez mais envolvido por aquela grande teia até que não mais verá o mundo senão através dela. E assim os prédios de Manhattan ficam ainda mais atraentes, como se envolvidos por uma aura metalizada – e às vezes um pouco enferrujada.



Da metade do caminho em diante, a partir da grande estrutura gótica (que vai se distanciando às suas costas), o cenário na ponte se repete como num espelho. Há, porém, uma diferença substancial: a vizinhança que se aproxima agora é o tranquilo Brooklyn. “How sweet it is!”, anuncia a placa, a mesma que deseja boas-vindas.


PS: o caminho de volta foi feito pelos subterrâneos do metrô.

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