Uma cidade encantadora

Nosso destino era uma pequena cidade no interior da Alemanha, perto da região conhecida como Floresta Negra, no estado de Baden-Württemberg. Lá, estava à nossa espera um médico cuja família tem sua história ligada a Limeira, mais precisamente à Fazenda Ibicaba (hoje situada em Cordeirópolis). Para quem não sabe, a fazenda foi o berço da imigração europeia de cunho particular por meio do sistema de parceria, implantado em meados do século 19 pelo senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.
Schwäbisch Hall, é este o nome do lugar, foi fundada no século 12 - embora existam vestígios que remontam a 500 anos a.C. A cidade ficou conhecida por sediar a maior salina do país em meados do século 17 (o sal, o “ouro branco” dos tempos medievais, nas palavras do prefeito Hermann-Josef Pelgrim, está ligado à origem do lugar, ainda nos tempos celtas). A localidade também ficou conhecida por cunhar uma moeda de prata chamada “heller” – exemplares podem ser comprados como souvenir.
A principal atração de Schwäbisch Hall é a Old City, ou centro antigo, onde se destaca a Marktplatz. Lá estão a Igreja de São Miguel (Kirche St. Michael) e a prefeitura (Rathaus), ambas com arquitetura e história fabulosas. Uma de frente com a outra, como dois amantes parados no tempo. A igreja, em estilo gótico, é imponente. Fica na parte superior da praça e é acessível por uma longa e larga escadaria. De lá, a prefeitura fica pequenina, mas não menos charmosa. Com uma torre e um relógio, é dos prédios mais bonitos da cidade.
Na cinzenta fachada da igreja, consagrada no século 12 pelo bispo Gebhard von Würzburg, destacam-se também uma torre e um relógio. Em seu interior silencioso, ossos humanos podem ser vistos no subsolo por meio de um acrílico. Uma imagem macabra (acentuada pelo clima sombrio característico das igrejas góticas) e histórica.
Ainda na praça, experimente tomar um café numa das mesinhas das construções laterais. Uma sugestão é o elegante Cafe am Markt, logo acima da fonte. Luminárias, gradis rebuscados e floreiras coloridas misturam-se à exuberante arquitetura e dão o tom ao lugar. Simplesmente curta o momento e deixe o tempo passar. À noite, após o jantar, caminhe de modo errante pelas ruas - iluminada, a Marktplatz tinge-se de dourado. Sinta o clima de uma cidade que tem muita história para contar!





Passear pelas margens do rio Kocher, apreciando as construções medievais ao redor, é bucólico e mágico. Refletidas nas águas escuras do rio, as casinhas - marcadamente germânicas, algumas com flores nas janelas - parecem cenário de embalagem de chocolate. Se puder, faça esse passeio bem cedo, quando a cidade ainda não despertou totalmente. Se estiver no outono ou inverno, você vai se deparar com uma paisagem ainda mais fantástica e romântica, acrescida de névoa, orvalho e – dependendo da temperatura – a branca neve.
Símbolo da importância das artes no lugar, Schwäbisch Hall abriga também uma réplica do Globe Theatre, o teatro inglês que ficou famoso por sediar as peças de William Shakespeare. Contudo, a principal diversão na cidade é tentar pronunciar o seu nome. Experimente: pergunte a um morador como se fala e tente imitar. “Xuabixirrallll”, “Xueibixirrallll” (assim, com muitos “l”, soltando a língua). Acredite: você tentará uma, duas, três vezes. E ainda assim vai lamentar não ter atingido um nível adequado de pronúncia.
Seja como for (ou como você falar), Schwäbisch Hall vale uma visita. Mesmo longe dos roteiros tradicionais na Alemanha, a cidade é uma daquelas joias que surgem em nosso caminho sem avisar. Joias que encantam e nos envolvem para sempre!




PS: para saber mais sobre a história da imigração europeia de cunho particular e, mais especificamente, a ligação do médico de Schwäbisch Hall com Limeira, recomendo a leitura de “Recordações de Infância de Carlota Schmidt no Ibicaba”, do pesquisador José Eduardo Heflinger Júnior, o Toco.

* As fotos pessoais foram tiradas em máquinas tradicionais (não digitais), daí a baixa qualidade das imagens. As demais foram retiradas do site oficial da cidade. 

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