Um reino encantado

Minha primeira viagem internacional foi a realização de um sonho. Eu tinha 13 anos de idade quando embarquei - desacompanhado de pais, parentes ou amigos - numa excursão rumo à Disneyworld, na Flórida, EUA. O ano era 1991 e o Brasil começava a abrir sua economia. Resultado: um choque cultural tremendo já na chegada ao Aeroporto Internacional de Orlando. Veículos, serviços em máquinas, tudo era absolutamente novo, diferente e moderno. 
A aventura, porém, começou bem antes. Entrar num grande boeing (para quem só tinha voado nos famosos “teco-teco”), na época da Transbrasil, um orgulho nacional; experimentar a sensação dos motores acelerando para a decolagem e até as pequenas turbulências que surgiram durante o trajeto, tudo era novidade e motivo de diversão. Era, porém, a Disney que eu desejava conhecer. O mundo mágico de Walt Disney dos meus sonhos de infância, de quem cresceu assistindo na TV ao clássico "Disney Clube" (e quem nunca quis uma daquelas orelhas do Mickey...?).
Logo descobri um fato: o que convencionamos chamar de Disney é, na verdade, um grande complexo de parques, dos quais o Magic Kingdom (ou Reino Encantado, numa tradução mais livre) é apenas mais um - e talvez o mais sem graça. Não que eu não tenha me divertido com os piratas do Caribe, a casa assombrada em que o fantasma aparece ao seu lado no carrinho ou ainda com a montanha-russa na velha mina; apenas achei mais legal o Epcot Center, a vila experimental do futuro projetada por Walt Disney, e os estúdios da MGM (no próprio complexo Disney) e da Universal (ali perto). Também gostei muito do Sea World (a casa da baleia Shamu, a orca mais famosa do mundo), de Busch Gardens (em Tampa, uma cidade próxima) e do Wet´n´Wild (o parque aquático, hoje presente no Brasil).
Também descobri que, apesar de parecer um sonho infantil, a Disney é mesmo uma grande diversão para os adultos. Com seus brinquedos espetaculares e as menções a filmes que fizeram história por gerações, os parques divertem muita gente grande!
A realização de um sonho é sempre difícil de descrever. Voar para fora do Brasil no início da década de 1990 era algo restrito. Hoje, mais de duas décadas depois, ainda guardo na memória cada minuto daquela viagem. E só na memória. Pré-adolescente, sozinho, numa época em que a tecnologia estava longe das máquinas digitais da atualidade, não consegui registrar mais do que 36 fotos, pois a máquina emprestada que meu pai arrumou quebrou já no segundo dia de viagem – o que, aliás, rendeu-me uma brincadeira que não esqueço. Como as únicas fotos são de Busch Gardens, uma mistura de zoológico com parque de diversões, meu irmão perguntou – irônico e “sarrista” - logo que viu as imagens reveladas: “Você foi para a Disney ou para a Amazônia...?” É que só havia fotos de animais...
Minha relação com a Disney, contudo, não parou aí. Eu talvez seja uma das poucas pessoas que teve o privilégio de conhecer todas as Disney do mundo - sem contar a que está sendo feita na China. Em 1999, durante uma viagem ao Japão, já com 22 anos, fiz questão de incluir no roteiro um dia na Tokyo Disneyland. As "filiais" da Disney reproduzem tijolo a tijolo, "ipsis literis", a matriz. Estão todos lá: os mesmos piratas do caribe, a Thunder Mountain, a casa assombrada... A única diferença é que o complexo possui só o Magic Kingdom, não há outros parques. Bom, o sotaque também era diferente...
Foi nessa ocasião que confirmei a sensação que tivera anos antes: a de que o parque diverte muito os adultos (seria um exagero dizer mais os adultos do que as crianças?). Bastou ver a reação do meu pai, um senhor então com 59 anos: brincava com os personagens, posava para fotos e se aventurava nos brinquedos tal qual um menino.
Nesse mesmo ano, nessa mesma viagem, "estiquei" até a Califórnia (EUA), onde fica o início de 
tudo: a primeira Disney, ainda uma “land” (terra) e não uma “world” (mundo).
Oito anos depois, foi a vez de conhecer a EuroDisney (ou Paris Disneyland) - que, na verdade, fica numa cidade próxima chamada Marne-la-Vallée. Estava com um amigo. Como havíamos chegado cedo, tivemos que esperar a abertura dos portões. Eis que dezenas, centenas de crianças ansiosas, agitadas, começaram a se juntar ao nosso lado gritando, pedindo para que o parque
abrisse. Um tanto envergonhado, meu amigo começou a rir até que “ordenei”: “divirta-se também!” E assim foi: ficamos o dia todo de brinquedo em brinquedo; “caçamos” os personagens pelo parque (só abrimos mão de enfrentar a fila para tirar uma foto com o Mickey); fomos às lojas, experimentamos acessórios de personagens e ainda nos aventuramos pelas montanhas-russas do Walt Disney Studios (no complexo europeu, além do Magic Kingdom, há o parque temático sobre cinema). Foi mais um dia inesquecível, para mim especial, pois fechava o ciclo das Disney ao redor do mundo.
Para todos que me perguntam, respondo sem hesitar: vá! E se for adulto, acrescento: garanto que você vai se divertir mais do que uma criança. A Disney é definitivamente um reino de fantasia e magia. Esteja ela onde estiver. Tenha você a idade que for.

PS: logo terei que conhecer a China...
 

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