Estranhos museus

Viajar é se deparar com surpresas. Inevitável isto. Boas surpresas, passeios que não estavam no roteiro e que, muitas vezes, revelam-se verdadeiras pérolas. Ainda que não sejam o máximo, tornam-se interessantes, pois acrescentam um conhecimento sempre inesperado.
Foi assim que me senti ao visitar, sem querer, a Galeria Real dos Planos-relevo (ou “Galerie Royale des Plans-relief” no nome original). Ela fica junto do Museu do Exército (“Musée de l´Armée”), no Palácio dos Inválidos (ou “Hôtel des Invalides”), em Paris, na França. Lá está também o famoso túmulo de Napoleão Bonaparte – motivo real da visita de milhares de turistas, como eu.
(Em tempo: é impossível acessar o Panteão Militar e o túmulo sem comprar o ingresso para o Museu do Exército – que, registre-se, é bastante interessante e vale a visita; a Galeria dos Planos-relevo vem como “brinde”, digamos assim.)
O Palácio dos Inválidos é, como o próprio nome diz, um local para abrigar pessoas que ficavam com sequelas após as guerras durante o período imperial. Ou, dito de uma forma mais dura e crua, para abrigar os... inválidos. A construção – monumental - ocorreu no século 17 por ordem do rei Luís 14. Ainda hoje, o prédio mantém em parte de sua estrutura a finalidade original. Desde o final do século 19, porém, assumiu também a função de museu, sempre ligado a temáticas militares.
Além de abrigo e museu, o conjunto sedia também uma igreja, a Catedral de Saint Louis des Invalide (ou São Luís dos Inválidos) - originalmente uma capela. É sob sua cúpula dourada e ricamente pintada que repousam os restos mortais de Napoleão Bonaparte, ou Napoleão 1º, imperador da França entre 1804 e 1814, achado morto em sua casa na ilha de Santa Helena. Foi responsável pela expansão territorial francesa à custa de invasões e guerras sangrentas e, quem diria, pela mudança da corte portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro entre 1807 e 1808, fato que alterou para sempre os destinos de Brasil e Portugal (mas isto é outra história).
Todos estes fatos eu conhecia e esperava encontrar no Palácio dos Inválidos. A surpresa mesmo foi a Galeria Real dos Planos-relevo. A esta altura, você deve estar pensando: afinal, o que é isto? Simples: planos-relevo são maquetes. Logo, trata-se de uma galeria real de maquetes. Não quaisquer tipos de maquetes. Todas as peças ali expostas - feitas numa espécie de madeira bem fina - envolvem cenas militares. As maquetes eram um importante instrumento para estudar e definir as estratégias de ataque e defesa da pátria. Para isso, eram feitas quase à perfeição, reproduzindo com grande fidelidade campos, montanhas e fortificações que serviram de cenário para as batalhas do exército francês ao longo dos tempos.
A galeria ficou até 1777 no Palácio do Louvre (hoje transformado em museu de artes e arqueologia). Desde então, ocupa um piso superior do Palácio dos Inválidos. Uma grande ala escura, com pequenas luminárias sobre cada uma das maquetes. Placas informativas explicam de qual cenário se trata e o que se travou ali. Uma a uma, vão se sucedendo de um modo um tanto monótono, é verdade, mas interessante.
Também sem querer me deparei, em Milão, na Itália, com o Museu dos Instrumentos Musicais. Ele é parte do acervo do Castelo Sforzesco, uma das principais e mais imponentes atrações turísticas milanesas. O tal museu é apenas um entre as coleções arqueológicas, artísticas e tantas outras e os chamados museus cívicos existentes no castelo (são cinco no total).
Ocupando uma ala inteira (o que não é muito, já que a construção é gigantesca), o museu apresenta uma série de instrumentos musicais, entre conhecidos – como pianos e violões – e outros de formatos estranhos para os leigos. Alguns são mesmo bastante estrambóticos! Outros, vistos de perto, insinuam fazer caretas... Chamam a atenção os pianos ricamente ornamentados, com baixos-relevos e pinturas; e as madeiras usadas na confecção dos violões e similares, uma espécie de cor bem amarelada. Há instrumentos de corda que se assemelham às atuais guitarras, alguns com dois ou até três braços (se é que o nome correto é este – que me perdoem os músicos pelas eventuais heresias aqui escritas). E existem os que parecem carregar filhotes dentro de si.
Para quem não entende nada de instrumentos musicais e de música em geral, a passagem pelo museu é interessante por colocar o visitante frente a frente com objetos jamais imaginados. São centenas deles, de todos os tipos, formatos, cores e tamanhos. Para os especialistas, imagino que o museu vá além de uma simples passagem. É um verdadeiro mergulho pela história e evolução dos instrumentos que serviram para dar vida a composições das mais diversas.
Obviamente, o castelo - construído no século 15 por ordem do duque Francesco Sforza – possui outras atrações. Esta postagem, porém, restringe-se aos museus estranhos, curiosos e inesperados que surgiram pelo caminho durante minhas andanças. E, neste caso, merecem destaque mesmo as notas musicais ecoadas nos corredores do Sforzesco. Ou melhor, os instrumentos que as vêm produzindo ao longo dos séculos. Em muitos casos, numa combinação magnificamente bela. Só em alguns casos!





 

* Se quiserem minha opinião sincera, para quem não é especialista em nenhuma das atividades aqui descritas, os museus citados não valeriam uma visita isolada. Contudo, como eles se encontram dentro de outras atrações, não deixe de dar uma “espiada” (para usar um termo da moda). No mínimo, você vai se deparar com algo totalmente diferente.


PS: não era possível tirar fotos na Galeria Real dos Planos-relevo.

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