Las Vegas: brega & chique

Las Vegas é “fake”. Pode-se gostar dela, dos cassinos, do cenário extravagante, eu entendo. É, sem dúvida, uma cidade inusitada, singular, única, que vale a pena ser visitada ao menos uma vez na vida. É indiscutível, porém, que a capital mundial dos jogos é “fake”. Afinal, em que outro lugar você se depara com a pirâmide de Gizé e a grande esfinge do Egito numa esquina e na outra com os arranha-céus de Nova York e a estátua da Liberdade? Em que outro lugar você encontra a torre Eiffel num quarteirão e pode passear de gôndola como nos canais de Veneza em outro? Onde mais você pode se hospedar num castelo que parece de brinquedo ou num circo? Nem na Disneylândia – e o reino encantado de Mickey e cia. também é “fake”.
Até no luxo que procura ostentar Las Vegas é meio “fake”. Apesar do dourado que reluz à luz do sol tal qual ouro, ainda que os traços clássicos e neoclássicos somados às estátuas em estilo romano dêem um toque especial ao cenário, no fundo você sabe que tudo soa falso. Mais que isto: tudo é, de fato, falso! Assim, o luxo vira lixo, brega e chique se misturam numa confusão alucinante, a suposta arquitetura ousada na verdade não deixa de ser puro exibicionismo barato e sem propósito. Nada combina com nada e, paradoxalmente, tudo combina tamanha a festa de imitações dos quatro cantos do mundo reunidas em alguns poucos quarteirões. É kitsch!






Não que isto seja um problema; não é. Ninguém, afinal, vai a Las Vegas para aprender ou apreciar arquitetura ou então para se sentir em Nova York ou Paris. Quem vai a Vegas procura simplesmente diversão. Entretenimento garantido pelas mesas e máquinas de jogos ou então pelas diversas ofertas de sexo que se vê a cada esquina. Por que não arriscar – muitos já saíram milionários de lá (ou casados...).
Las Vegas não faz questão de esconder que é uma cópia; ao contrário, ela quer mesmo exibir (este é o melhor verbo) a sua pretensão. No fundo, a cidade que os turistas conhecem não deixa de ser um grande parque de diversões. Nos cassinos ou na rua, sobram atrações. Dos grandes shows do entretenimento mundial (como o Cirque du Soleil) a encenações de gosto duvidoso (para não dizer mesmo de mau gosto) promovidas por alguns cassinos diretamente na calçada. Um deles, por exemplo, apresenta uma luta de piratas.
Neste quesito, a principal atração de rua talvez seja a fonte dançante do hotel Bellagio. De tempos em tempos (dez a 15 minutos, dependendo do período do dia), o lago - artificial, claro! - em frente ao cassino vira palco para jatos de água que sobem e descem conforme a música. Não se trata de força de expressão: canções que vão do clássico ao pop rock ditam o ritmo da fonte, atraindo gerações para um espetáculo gratuito de curta duração. É para quem está de passagem, embora muitos permaneçam ali por algum tempo esperando a próxima e a próxima e a próxima apresentação da famosa fonte do Bellagio.
“Só esse show já vale a pena ter conhecido Las Vegas”, disse uma turista brasileira, de nome Júlia, que apareceu numa recente reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo. Gosto não se discute, não é mesmo? Não que o show das águas seja feio, sem graça ou algo assim. É apenas kitsch. Aquela música um tanto alta invade os ouvidos enquanto os olhos assistem aos jatos atingirem alturas incríveis. Tudo comandado por computador. Eis a questão: falta o toque humano, aquele algo mais que permite a um espetáculo ser chamado de... arte.
Mas tudo bem. Todo mundo para e assiste, ainda que por poucos segundos. E quando se está em Vegas, shows assim valem a pena. Eles foram feitos sob encomenda para a cidade. Afinal, se lá tudo é meio “fake”, qual o problema de uma fonte tocar Beatles para que jatos de água comandados por computador dancem? Welcome to Las Vegas!

Em tempo: o show das fontes ganha uma cor especial à noite, quando à música e à fonte se junta uma iluminação especial, colorindo a paisagem opaca da fachada do Bellagio.








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