Até no luxo que procura ostentar Las Vegas é meio “fake”. Apesar
do dourado que reluz à luz do sol tal qual ouro, ainda que os traços clássicos
e neoclássicos somados às estátuas em estilo romano dêem um toque especial ao
cenário, no fundo você sabe que tudo soa falso. Mais que isto: tudo é, de fato,
falso! Assim, o luxo vira lixo, brega e chique se misturam numa confusão
alucinante, a suposta arquitetura ousada na verdade não deixa de ser puro
exibicionismo barato e sem propósito. Nada combina com nada e, paradoxalmente,
tudo combina tamanha a festa de imitações dos quatro cantos do mundo reunidas
em alguns poucos quarteirões. É kitsch!
Não que isto seja um problema; não é. Ninguém, afinal, vai a
Las Vegas para aprender ou apreciar arquitetura ou então para se sentir em Nova
York ou Paris. Quem vai a Vegas procura simplesmente diversão. Entretenimento
garantido pelas mesas e máquinas de jogos ou então pelas diversas ofertas de
sexo que se vê a cada esquina. Por que não arriscar – muitos já saíram
milionários de lá (ou casados...).
Las Vegas não faz questão de esconder que é uma cópia; ao
contrário, ela quer mesmo exibir (este é o melhor verbo) a sua pretensão. No
fundo, a cidade que os turistas conhecem não deixa de ser um grande parque de
diversões. Nos cassinos ou na rua, sobram atrações. Dos grandes shows do
entretenimento mundial (como o Cirque du Soleil) a encenações de gosto duvidoso
(para não dizer mesmo de mau gosto) promovidas por alguns cassinos diretamente
na calçada. Um deles, por exemplo, apresenta uma luta de piratas.
Neste quesito, a principal atração de rua talvez seja a fonte
dançante do hotel Bellagio. De tempos em tempos (dez a 15 minutos, dependendo
do período do dia), o lago - artificial, claro! - em frente ao cassino vira
palco para jatos de água que sobem e descem conforme a música. Não se trata de
força de expressão: canções que vão do clássico ao pop rock ditam o ritmo da
fonte, atraindo gerações para um espetáculo gratuito de curta duração. É para
quem está de passagem, embora muitos permaneçam ali por algum tempo esperando a
próxima e a próxima e a próxima apresentação da famosa fonte do Bellagio.
“Só esse show já vale a pena ter conhecido Las Vegas”, disse
uma turista brasileira, de nome Júlia, que apareceu numa recente reportagem do
programa “Fantástico”, da TV Globo. Gosto não se discute, não é mesmo? Não que
o show das águas seja feio, sem graça ou algo assim. É apenas kitsch. Aquela
música um tanto alta invade os ouvidos enquanto os olhos assistem aos jatos
atingirem alturas incríveis. Tudo comandado por computador. Eis a questão: falta
o toque humano, aquele algo mais que permite a um espetáculo ser chamado de... arte.
Mas tudo bem. Todo mundo para e assiste, ainda que por poucos
segundos. E quando se está em Vegas, shows assim valem a pena. Eles foram
feitos sob encomenda para a cidade. Afinal, se lá tudo é meio “fake”, qual o
problema de uma fonte tocar Beatles para que jatos de água comandados por
computador dancem? Welcome to Las Vegas!
Em tempo: o show das fontes ganha uma cor especial à noite, quando à música e à fonte se junta uma iluminação especial, colorindo a paisagem opaca da fachada do Bellagio.
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