O Canadá não é chato – bem, talvez ocasionalmente. Talvez
seja um tanto blasé. Ou, como defini (e acho mais apropriado), um desperdício.
É mais ou menos assim: um grande pedaço de terra para pouca gente (embora seja
justo registrar que a maior parte do território é praticamente inóspita). Você
chega no principal aeroporto do país, o da maior cidade (Toronto), e de repente
se depara com um imenso saguão vazio, um funcionário esperando por você. Um
desperdício. Você vai ao despacho de bagagens e as esteiras todas estão
paradas. Não há ninguém no local. Um imenso vazio.
Esta talvez seja a principal impressão do país, a primeira
(é ela que fica, não?). O Canadá é um desperdício. De terra, de dinheiro, de
tecnologia. Falta-lhe também um pouco de personalidade, algo que possa ser
chamado de seu. Não que o país não o tenha, mas o que possui, esconde. Afasta. A
história canadense foi assim, a dominação inglesa expulsou os nativos – estes
sim, com cultura e tradição seculares e únicas. Este é, na verdade, o Canadá,
aquele que não se conhece (ou que se vê hoje nos museus).
Não que o país seja “o lugar mais chato do mundo
civilizado”, mas considerar que existem apenas três grandes cidades (Toronto,
Montreal e Vancouver, pois a capital Ottawa é minúscula e quase desprezível até
para os locais – um motorista de ônibus perguntou-me, espantado, o que afinal
eu, brasileiro, fazia lá...) é um bom sinal do tal desperdício.
É verdade que as cidades são vibrantes – no caso de Toronto,
eletrizante. Contudo, até o caráter multifacetário das três colabora para
despersonalizá-las ao atrair gente de todo o mundo. A diversidade étnica e
cultural talvez seja a principal característica da sociedade local, mas é
inevitável sentir a ausência de uma marca que caracterize o país. Ok, o Canadá
é a terra da maple, a tradicional árvore cuja folha está estampada na bandeira
nacional. Mas onde se vê a maple? No país que a gente não vê, na parte apagada
da história, guardada nos museus. Ok, o Canadá é a terra dos ursos e dos
esquimós, mas onde eles estão? No país que a gente não vê.
De repente você vai a um daqueles vilarejos do interior,
como Niagara-on-the-lake, e se depara com um lugar feito para um conto de
fadas. Gente tranquila, ruas tranquilas, residências e lojas que se parecem com
casinhas de boneca. E de repente você vai para o campo e vê uns casarões em
meio a grandes áreas verdes cercadas de árvores frondosas que perdem suas
folhas no inverno. E se pergunta: onde estão as pessoas? Um desperdício este
país...
Seja como for, o Canadá é lindo sim, as cidadezinhas guardam
um charme singular, as grandes cidades não devem nada às irmãs
norte-americanas, a sociedade é pacífica e desenvolvida (em todos os aspectos).
Talvez isto tudo seja a parte “chata” à qual Paulo Francis se referiu. “O lugar
mais chato do mundo civilizado...”.
E se por acaso alguém se atrever a achar que o país é o
quintal dos Estados Unidos, como pejorativamente muitos afirmam (embora no
aeroporto esteja a alfândega norte-americana em pleno território canadense),
saiba que os canadenses não estão nem aí com isso: eles preferem assim, viver
em paz, longe de disputas econômicas, políticas, bélicas. Que chato isto, não?!
(É o que diria Paulo Francis...)
PS: no fundo, será que não está correta a frase estampada na lateral da escadaria de uma livraria localizada no Eaton Centre, em Toronto?
* A segunda foto é minha; a primeira, de Carlos Giannoni de Araujo
2 comentários:
Infelizmente perdi o meu tempo lendo uma análise ridícula e leviana.
Lamento se você não entendeu "o espírito da coisa"...
Aliás, um texto que começa com uma frase ácida de Paulo Francis realmente não podia agradar todo mundo.
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