No caso de uma grande cidade, a primeira impressão será
inevitavelmente sua imensidão. E olhar se expande para além do horizonte e, por
mais que se saiba tratar-se de uma metrópole, sempre haverá uma sensação de
espanto. Até pequenas cidades, porém, revelam seus detalhes escondidos quando
observadas lá do alto.
Saiba, portanto, de antemão, que esta oportunidade será
sempre uma boa atração numa visita a um novo lugar.
É do alto que você consegue ter uma ideia mais exata do
desenho da cidade, da sua geografia e das escolhas urbanas e arquitetônicas
feitas ao longo dos anos. O traçado das ruas e dos rios, a forma como as
edificações estão distribuídas, a presença ou ausência de áreas verdes, o trânsito,
a infraestrutura, a formosura de algumas pontes e a robustez de outras – tudo se
revela.
Nova York, por exemplo, é um prato cheio para esta
observação. Do alto, tem-se noção do domínio que o famoso e histórico Empire
State Building exerce sobre a paisagem de concreto (atenção: é preciso subir ao
topo do Rockfeller Center para ver o seu concorrente). Do alto, o Central Park
mostra-se como um mar verde rasgando (ou oxigenando) o coração da ilha de
Manhattan. Do alto, e só do alto, é possível ver os “borroughs” (espécies de
distritos) que formam a cidade. Prédios viram tijolinhos no horizonte,
encobertos pela névoa, pela fumaça, pela neblina ou expostos ao azul celeste,
conforme o dia, conforme a estação.
E não pense que uma única olhada terá sido suficiente. Numa
grande cidade (e até nas pequenas, por que não?), sempre haverá novos detalhes,
aspectos que escaparam a uma primeira vista. Em Nova York, experimente subir ao
topo do Empire State e depois ao Rockfeller Center. Você verá duas cidades.
Faça isto de dia e à noite. Você verá duas cidades. Ou várias cidades. Ou
várias facetas de uma mesma cidade.
Do alto, as luzes de Times Square viram apenas pontinhos de
uma imensa árvore de Natal. A cidade fica reluzente: do dourado no horizonte ao
colorido que ilumina as antenas no topo dos prédios, passando pelo brilho dos
arranha-céus. Nova York, quem diria, ganha ares de “Cidade-Luz”. Do alto,
clarifica toda a sua energia.
Naturalmente, cada cidade tem algo diferente a mostrar. Em
Chicago, por exemplo, só uma vista de cima permite descobrir telhados feitos
com grama, fruto da onda verde que toma conta do mundo. Em Las Vegas, a secura
do deserto se apresenta com nitidez em seu tom marrom-claro às alturas. Em
Veneza, a fragilidade e a magnificência de sua estrutura ganha contornos quase
dramáticos e épicos. Do alto, definitivamente não se sabe quem domina: se a
cidade domou as águas o vice-versa. Em Tóquio, a necessária – e cara - disputa por
espaço torna-se evidente quando se descobrem pequenos cemitérios espalhados por
qualquer sobra de terreno. E esta lista seria imensa: Toronto, Filadélfia,
Lucca, enfim...
Por isto, não subestime o que pode parecer atração
secundária, a subida a um mirante. Você fará descobertas de encher os olhos.
Acredite: verá uma imagem (muitas, na verdade) que ficará perpetuada na
memória. Passará a sentir o lugar de um outro modo quando voltar ao chão. O
parque não será mais o mesmo parque, as ruas não serão mais as mesmas ruas, os
prédios não serão mais os mesmos prédios. Tudo terá adquirido um novo tom, uma
nova cor, um novo sentido. Ninguém fica impassível a um novo olhar. São
diferentes modos de ver, que afetam nossa concepção de espaço.
E se Nova York é um dos exemplos mais bem acabados dessa
agradável experiência, deixe a imaginação fluir. A visita ao mirante ficará
ainda mais divertida e lúdica. Você fatalmente descobrirá novas formas, tal
como se faz na infância com as nuvens no céu. Descobrirá novos usos, combinando
o que na realidade parece não combinar. Imaginará, quem sabe, um grande monstro
de marshmallow (quem tem mais de 30 anos há de lembrar do Stay Puft, que
caminha onipotente e assustador pelas ruas de Manhattan em “Os Caça-Fantasmas”,
sucesso dos cinemas em 1984). Verá até naquela profusão de prédios um imenso
fliperama. Duvida?
* As fotos são minhas e de Carlos Giannoni de Araujo