Qualidade à mesa

A música que sai do antigo instrumento anima a praça em frente ao Parlamento, no coração da capital da Suíça. Bem ao lado, toda semana acontece a principal feira livre de Berna. Tem de tudo. Flores e plantas para decorar as casas, legumes e verduras de encher os olhos. Os tomates chegam a brilhar. Queijos de vários tipos e petiscos temperados dão água na boca. Quanta delícia! As cores e sabores atraem os clientes, que enchem as sacolas.
Mas não é só a qualidade dos produtos que chama a atenção. Num país tão organizado como a Suíça, qualquer detalhe faz diferença. Na feira livre, por exemplo, o ponto de fornecimento de energia fica enterrado no solo. Quando tem a feira ele sobe e quando a feira acaba ele abaixa e fica de novo no asfalto.


A pouco mais de cem quilômetros, em Lucerna, a feira acontece todo sábado às margens do famoso lago dos Quatro Cantões. Pimentões vermelhos e amarelos, tomates, alfaces variadas. Barracas com produtos orgânicos, que oferecem uma atraente combinação de sabor e saúde.


Não é difícil entender tanta qualidade. Os suíços valorizam a produção local, feita em pequenas propriedades rurais. E quando falta espaço em casa para plantar, é só dar uma olhadinha pela cidade. Muitos moradores de Berna procuram alternativas, principalmente quem vive em apartamentos, num espaço público. A prefeitura repassa o espaço para uma associação, que depois permite que os interessados utilizem pequenos espaços para hortas particulares. Tudo que sai de lá é orgânico, natural, muito saboroso.
Tem milho, verduras, tomates variados, pepino, maçãs, amora, abóbora, uma variedade incrível para um espaço tão pequeno.
Nico Shabani gosta de passar o tempo cuidando dos tomates na estufa. Ele veio da região de Kosovo, na Albânia, onde era fazendeiro. Diz que sentia falta da atmosfera rural e encontrou nas hortas de recreio, como são chamadas na Suíça, uma forma de manter os laços com a terra natal. “Tenho três filhos e gosto de passar o tempo aqui. Venho pelo menos uma vez por semana, as crianças gostam”, diz ele.
Por um espaço de duzentos metros quadrados, moradores de Berna pagam à prefeitura 300 francos suíços por ano, o equivalente a 750 reais. Além de fornecer alimentos saudáveis para as famílias, projetos como este também contribuem para o lazer. O espanhol Soares Manoel mora há 34 anos na Suíça e há quinze aluga uma área na horta de recreio.














A qualidade que sai das pequenas propriedades vai parar na mesa dos suíços. A padaria em Burgdorf, uma pequena cidade de 15 mil moradores a vinte minutos de Berna, busca nos produtores locais a matéria-prima para seus doces e salgados. Os deliciosos croissants assando no forno são feitos com farinha de trigo produzida lá mesmo na região. Bem como os doces com kiwi, laranja e morango.
A gerente Marlis Zahnd diz que a maioria dos produtos, como a maçã e o mel, vem de fazendeiros locais. Eu pergunto se os clientes preferem esses produtos. Ela responde que sim. “Eles gostam dos artigos produzidos de forma orgânica, produtos que fazem bem à saúde”, fala. O suco de maçã, por exemplo, é feito no vale do rio Emmen, em Emmental. É realmente gostoso!
Iniciativas como a da horta e o aproveitamento da produção local mostram que qualidade de vida e saúde não dependem de muito esforço nem de muitos recursos. É só ter boas ideias.

* Texto original de reportagem feita para o programa "Repórter Eco" (TV Cultura, dom., 17h30)

Postagem em destaque

A Veneza verde do Norte

A tecnologia que empresas suecas levam mundo afora hoje em dia não é um acaso. O país tem vocação para invenções e descobertas. O passado v...

mais visitadas