As cores de Kiruna (e a busca pela aurora boreal)

Uma cidade perto do nada.  Quase no topo do globo terrestre, toda coberta de neve, 200 km acima do Círculo Polar Ártico. É um frio congelante. E uma situação perfeita para explorar o espaço. Kiruna abriga uma das mais importantes bases do Instituto de Física Espacial (IRF) da Suécia. Os 50 cientistas daqui desenvolvem equipamentos que participam de algumas das mais importantes experiências da humanidade na exploração do universo.





A famosa sonda Rosetta, que fez recentemente um inédito pouso num cometa após dez anos de viagem pelo espaço, teve partes de sua estrutura feitas no instituto. Outros instrumentos chegaram à Lua e ao planeta Mercúrio. No laboratório de calibração, as câmaras simulam as condições existentes no espaço. Isto é essencial para testar os instrumentos que estão sendo desenvolvidos. Numa câmara de vácuo, um instrumento está sendo desenvolvido e deve ser enviado para Júpiter em 2022 em colaboração com a Agência Espacial Europeia. A jornada até o maior planeta do sistema solar deve levar sete anos.
Além de colaborar com pesquisas mundiais, o instituto tem um outro objetivo ousado: quer ser a porta da Europa para o universo. “Kiruna tem uma longa história de pesquisa espacial. Estamos aqui desde 1957 e dez anos depois Kiruna foi escolhida como base europeia para lançamento de foguetes”, explica Rick McGregor, diretor de pesquisa e desenvolvimento do IRF.
O plano ainda não está detalhado, mas a ideia é aproveitar essa experiência e principalmente a localização estratégica da cidade. Se tudo der certo, Kiruna pode virar também rota do turismo espacial. Segundo o diretor, o projeto vem sendo desenvolvido há anos e provavelmente ainda vai demorar mais alguns anos para sair do papel. “O turismo espacial é um dos desafios e ao mesmo tempo é o próximo passo da aventura espacial. Não só para especialistas, mas para todo ser humano ter a chance de ir ao espaço.”
Enquanto o sonho de ser astronauta não vira realidade, é possível pelo menos olhar para o céu. Em Kiruna, a visão costuma ser espetacular. Pelo menos uma vez a cada três dias, em média, moradores têm o privilégio de observar um dos fenômenos mais bonitos do espaço: a aurora boreal - chamadas também de luzes do norte.
As auroras são fonte de estudo no instituto espacial sueco. O diretor conta que partículas do sol atingem nosso planeta a todo momento. A aurora é resultado disso: do encontro dos ventos solares com o campo magnético da Terra. Para estudar este e outros fenômenos, máquinas potentes colocadas no telhado do instituto fotografam o céu 24 horas por dia. As imagens podem ser vistas em tempo real pela internet, no site da instituição, e ficam arquivadas para pesquisa.
Durante o outono-inverno, quando as auroras são comuns por aqui, Kiruna atrai turistas e aventureiros de todo o mundo. Ver o fenômeno exige uma boa dose de coragem para enfrentar o frio que, no pico do inverno, pode chegar a 45 graus negativos. Quanto mais longe da cidade, melhor. Mas mesmo no centro dá para ver a aurora quando o céu está escuro. Infelizmente não foi o que aconteceu quando estivemos lá. Enfrentamos a baixa temperatura durante duas noites, mas com o céu claro vimos apenas uma aurora fraca (a das duas primeiras fotos abaixo; as outras duas ocorreram dois dias antes de nossa chegada - em detalhes aqui). Tão fraca que a câmera não conseguiu captá-la.





Mesmo assim foi emocionante. Um fenômeno que fascina até quem já está acostumado. “É excitante, uma experiência difícil de descrever. Uma das coisas boas de viver aqui em Kiruna é ter esta oportunidade. Eu as vejo faz 15 anos e nunca me canso”, fala McGregor.
E mesmo sem o esplendor esverdeado da aurora boreal, Kiruna deu de presente muitas outras cores. O colorido da beleza do nascer e do por do sol nesta parte praticamente isolada do planeta. Até na hora de partir...



 





* Texto original de reportagem feita para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)

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